Salvo algumas exceções, o humano é um animal muito falante.
Pesquisadores indicam que chegamos a usar até 370 milhões de palavras em
um tempo médio de vida. No entanto, ninguém sabe exatamente o motivo de
sermos a única espécie a ter um linguajar próprio.
Mas de onde tudo isso surgiu? A história da linguagem é um
quebra-cabeças tão complexo que, ainda hoje, poucos arriscam dizer que
ele já foi completamente resolvido. Segundo Simon Kirby, membro da maior
unidade de pesquisas de evolução da linguagem do mundo, mesmo com muito
investimento, ainda sabemos muito pouco sobre nossa própria história.
“Ainda não sabemos quase nada sobre como chegamos a ter a nossa
característica mais marcante. É um pouco embaraçoso pensar o quão pouco
entendemos sobre a maior marca de nossa espécie”, diz Kirby.
Ao contrário de outros aspectos da evolução humana, nos quais fósseis
colaboram de forma gigantesca para a compreensão, é muito difícil ter
certeza sobre como o ser humano começou a falar. Quem definiu muito bem a
situação foi Christine Kenneally, autor do livro “The First Word” (“A
Primeira Palavra”, ainda sem tradução para o português): não existem
verbos preservados em âmbar que possam esclarecer esses mistérios.
Os pesquisadores nem ao menos sabem quando começamos a falar. As
pesquisas mais consideradas no meio acadêmico levam em conta datas entre
100.000 e 1,8 milhão de anos. Já se sabe, por exemplo, que todas as
espécies do gênero Homo, como os Neandertais, contavam
com meios de fala evoluídos. No entanto, os cientistas ainda não sabem
se isso era utilizado ou exercitado de alguma forma.
A árvore genealógica da linguagem
Um grupo de pesquisas de Biologia Evolutiva da Universidade de
Reading, no Reino Unido, está próxima de resultados mais precisos sobre
as origens da linguagem humana. Eles traçaram os “rastros” da linguagem,
criando uma espécie de árvore genealógica da fala, que mostra como
chegamos até onde estamos. No entanto, algumas partes do quebra-cabeça
ainda estão faltando.
Fonte da imagem: Reprodução/DARE
Nas pesquisas, eles descobriram fatos importantíssimos; por exemplo,
há 20 mil anos os homens das cavernas já eram capazes de entender o
significado de palavras simples, utilizando termos como “tu”, “ti” e
“quem”.
Idiomas irmãos
Mark Pagel, do grupo de pesquisas da Universidade de Reading,
acredita que palavras são transmitidas “de pai para filho”, assim como
os genes. “Isso significa que podemos comparar as palavras que as
pessoas usam da mesma forma que fazemos com os seus genes, com a
finalidade de estabelecer como vários falantes podem estar intimamente
relacionados. Da mesma forma, se duas línguas têm muitas palavras em
comum, isso sugere que ambas derivam de uma mesma língua ancestral”, diz
Pagel.
Um bom exemplo disso é o latim, que é o ancestral em comum para
idiomas como o português e o espanhol, que contam com centenas de
palavras com significados e sons semelhantes.
A capacidade de falar
Desde a década de 50, uma pesquisa do Instituto de Linguística da
Universidade de Massachusetts tem sido a palavra final sobre o assunto. O
autor do estudo, Noam Chomsky, defendeu que a fala está dentro dos
genes humanos.
“Minha neta adquiriu sua linguagem, enquanto o seu gatinho de
estimação, que foi influenciado pelos mesmos dados externos, não poderia
nem mesmo começar a falar. Ou isso é um milagre ou a capacidade de fala
é parte da herança genética humana”, complementa Chomsky.
Pesquisadores atuais, como Kirby, atentam para outros fatos: “É uma
explicação perfeitamente razoável, mas eu diria que ele ignora algo
importante: a linguagem não é totalmente formada a partir de qualquer
tipo de faculdade biológica que temos. A linguagem é um produto humano,
uma criação nossa a partir de habilidades.”
Talvez a soma de algumas habilidades, imitações e a capacidade de aprendizado seja o “elo perdido” da linguagem. No entanto, ao que tudo indica, ainda estamos longe de ter um veredito final sobre o assunto.
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